Seguimos inspirados pela figura do saudoso Homero Alves de Sá, buscando sempre a execução de uma advocacia firme, ética e justa.

Em homenagem ao HOMERO, reproduzimos o discurso que foi proferido pelo Sócio Euclydes Mendonça, em abertura de evento onde palestraram os Ministros Pedro Paulo Teixeira Manus e Maria Cristina Peduzzi:

Exmos. Colegas Ricardo Peake Braga e José Magalhães Teixeira Filho, idealizadores dessa palestra em homenagem ao querido Homero Alves de Sá;

Exma. Sra. Ministra Maria Cristina I. Peduzzi, do Colendo Tribunal Superior do Trabalho;

Exmo. Sr. Ministro Pedro Paulo Teixeira Manus, MD Diretor da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo;

Ilmas. Ana Claudia Alves de Sá e Ana Maria Alves de Sá

Exmos. Srs. Magistrados, o que faço na pessoa do Exmo. Ex-Presidente do TRT, Desembargador Décio Daidone

Srs. Advogados, cumprimentando todos na pessoa do ilustre advogado Antonio Fakhani Júnior

Sras. Advogadas, cumprimentando todas na pessoa da ilustre advogada Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade

 

Exmo. Sr. Procurador do Trabalho, Danton Almeida Segurado

 

Nossos colegas de escritório, minha família,

Senhoras e Senhores,

 

Desta tribuna onde desde 1874 tantos ilustres juristas já falaram, cabe-me hoje cumprir a difícil tarefa de homenagear HOMERO ALVES DE SÁ, o que faço movido pelo sentimento aqui decantado tantas vezes por NELSON KOJRANSKI – o da gratidão.

 

Falar de nosso homenageado é lembrar de suas histórias, é voltar no tempo e imaginar aquele menino descalço e que sempre com a bola no pé corria pelas ruas de terra da pequena São Sebastião da Grama; filho do Sr. José Sá e de Dona Luiza, certamente a figura feminina que inspirou o humanista HOMERO, e, não por outro motivo, de tanto dela ouvirmos falar, resolvemos, Fernanda e eu, batizar nossa filha com o mesmo nome daquela mulher de fibra.

 

Da pequena São Sebastião da Grama, terra também de seu amigo e companheiro de OAB, Dr. JOSÉ MAGALHÃES TEIXEIRA, pai de nosso anfitrião, HOMERO foi concluir os estudos na cidade imortalizada por Euclides da Cunha, São José do Rio Pardo, onde conheceu seu professor de latim, LAERCIO BARBOSA, que tornando-se seu amigo inseparável, não tenho dúvidas, foi o grande influenciador para que, do latim que o jovem já dominava, fosse seguir a carreira na Advocacia. LAERCIO era pai dos ilustres advogados MARIA BETÂNIA e MARCO ANTONIO RODRIGUES BARBOSA, igualmente amigos de toda a vida do homenageado.

 

Inspirado pelos ideais que já cultivava, leitor voraz, de redação impecável, o jovem partiu para a Capital do Estado para cursar Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Uma de suas grandes alegrias recentes foi saber que a sua faculdade seria dirigida pelo seu amigo PEDRO PAULO TEIXEIRA MANUS, situação que mereceu a exclamação clássica do homenageado “AGORA SIM, ESTE MENINO É FORMIDÁVEL”, foi o que ele me disse na ocasião já prevendo a competente e exitosa gestão do ex-Ministro, já em seu segundo mandato.

 

Foi na PUC que HOMERO conheceu aquela com quem ele se casaria e viveria toda a sua vida, MARIANNA GIANONNI ALVES DE SÁ, com quem teve suas duas ANAS, CLÁUDIA e MARIA. Era avô amantíssimo da hoje Advogada Isabela e do jovem Gabriel.

 

Não posso deixar de registrar que, por afeto verdadeiro, era também avô dos meus filhos, o Criminalista Pedro Mendonça, o Publicitário e Palmeirense João, seu afilhado, e a linda e futura Advogada Luíza, para quem ele foi e sempre será apenas o vovô HOMERO.

 

Nos bancos da PUC, na prestigiada turma de 1957, HOMERO fez grandes amigos e ao lado deles, sempre presentes, viu as transformações de nossa Justiça e da própria Advocacia. Não posso deixar de lembrar os nomes de AMAURI MASCARO NASCIMENTO, AMADOR PAES DE ALMEIDA, ROBERTO MOREIRA CESAR, GESNER CUNHA, da caloura VERA MARTA PUBLIO DIAS, dentre tantos outros.

Ainda Acadêmico de Direito, foi trabalhar no Banco da Lavoura (depois transformou-se no Banco Real e hoje Banco Santander), pela modéstia que sempre o caracterizou, HOMERO justificava que sendo o único estudante de Direito do Banco conseguiu ser transferido para o Jurídico, onde ele criou laços vitalícios com o Dr. Luiz Figueiredo, que também o levou para trabalhar no escritório Monsen e Bastos.

 

Durante toda a sua vida de advogado, portou orgulhoso em sua carteira de notas unicamente a cédula de identidade da OAB de nº 9.913.

 

Em 1959, assumiu o jurídico da Companhia Brasileira de Gás e depois o jurídico do Grupo Saint-Gobain.

 

MARIANNA, sua caloura e depois sua esposa, mantinha uma advocacia voltada exclusivamente para a administração de bens familiares e direito imobiliário, enquanto HOMERO, naquela época, fazia “clínica geral”, inclusive, um pouco de trabalhista; inaugurado em 1965 um dos mais icônicos prédios brasileiros, o EDIFÍCIO ITÁLIA, foi lá que eles resolveram abrir seus escritórios, com sede própria, como se costumava dizer à época, escritório que por décadas HOMERO dividiu a advocacia com os mais ilustres colegas, impondo-se lembrar de VALTER EXNER, RUBENS SALLES DE CARVALHO, ANTONIO JOSÉ CASTRO SÁ e JOSÉ BUENO DE AGUIAR.

 

Era também lá, em noites semanais, estendendo-se pela alta madrugada, que um grupo que denomino de “amigos do Itália” se reuniam para a rodada de poker, regada a OLD PARR, e baforadas de cigarros e charutos, época em que ainda se fumava em ambientes fechados. Era ali que se fomentaram muitas das políticas de classe daquela época. Do Terraço Itália desciam os garçons com os quitutes que embalariam as noites de discussões políticas e de direito.



Um dos mentores do carteado era o cliente, Diretor da ALIANÇA DA BAHIA, FERNANDO FARIA, mais conhecido na roda como FERNANDO BAIANO, que seria um apelido curioso para a época, não fosse o importante executivo, de fato, da terra da brisa cantada por CAYMI. Cliente e amigo até os últimos momentos, foi presidente da SUL AMÉRICA e Vice-Presidente da área de seguros do BANCO SANTANDER.

Dois meses antes do falecimento de HOMERO, FERNANDO organizou em sua casa e com a presença do amigo, um “revival” daquelas noites, parece mesmo que tudo conspirava para uma despedida.

Para os que não conheceram o homenageado, lembro palavras recentes de CELSO MORI ao me contar que conheceu HOMERO nos anos de 1970, o descreveu como um homem de sorrido franco, e que a primeira impressão foi de ter conhecido um advogado íntegro e ético, completou me dizendo que estas características ele observou em toda trajetória de vida de nosso homenageado.

Apesar disso, HOMERO era um homem temperamental, as vezes intransigente, inflexível, em especial quando se tratava de valores e princípios que para ele sempre foram muito caros. De decisões rápidas, convencido de determinado assunto, nada o faria mudar de ideia, parou de fumar num dia qualquer, quando olhando para o maço de cigarros, jogo-os na lixeira, nunca mais voltou ao vício. Foi também assim que, parando na porta de minha sala, anunciou sua aposentadoria!

E foi justamente por esta sua maneira de ser que, levado pelo amigo RUBENS VANDONI, conhecido e saudoso especialista em Direito Falimentar, que ele foi visitar Dona MARIA PIA MATARASSO, dela recebendo o convite para assumir o Jurídico Trabalhista das empresas de igual nome e onde se amontoavam milhares de processos trabalhistas. A difícil decisão foi resolvida, me contou ele anos depois, após ouvir uma única frase da conhecida empresária, “Dr. Homero, eu preciso do senhor”, era só o que bastava para HOMERO - que alguém precisasse dele, e foi o suficiente para que ele fechasse seu tradicional escritório e em 1984 assumisse o jurídico trabalhista do tradicional grupo empresarial.

Foi lá, em Janeiro de 1989, que conheci o nosso homenageado, história que já contei em artigo que escrevi sobre ele para a Revista do Tribunal do Trabalho da 2ª Região, e que não vou repetir aqui, mas não poderia deixar de lembrar neste momento de homenagem, os nomes de nossos companheiros de Jurídico da Matarazzo, os queridos advogados e amigos JOSÉ MAURO MARQUES, MILTON MESQUITA, JOSÉ MARIA BERNILS, ZANEISE FERRARI RIVATO, MARIA ROSANGELA DOS SANTOS e aos quais me juntei, sob a orientação de HOMERO, para construir a minha carreira na nossa Justiça do Trabalho.

Em Brasília contávamos com uma plêiade de grandes advogados, sendo que duas especiais advogadas tive a honra de conhecer através de HOMERO, minha saudosa amiga LÍSIA MUNIZ DE ARAGÃO e a hoje Ministra MARIA CRISTINA IRIGOIEN PEDUZZI.

Ao ser convidado em 2010, pela Exma. Desembargadora ROSA MARIA ZUCCARO e pelo então Presidente do Tribunal, Desembargador DÉCIO DAIDONE, para escrever o artigo que mencionei antes, para a Revista do Tribunal, fui buscar, para o título, a tratamento que lhe era dado pelo nosso inesquecível Batonnier RUBENS APPROBATO MACHADO – HOMERÍSSIMO – que agora apresento a definição - adjetivo superlativo absoluto sintético, pode ser usado como sinônimo de amizade, dignidade, caráter, ética e honra!

Poucos conseguiram numa só palavra significar HOMERO tão bem. Advogado, viveu para a profissão, para a advocacia, para a Magistratura que tanto respeitava, para a Justiça, em especial para a Justiça do Trabalho; amigo, viveu para atender a todos e a qualquer hora. Foi inúmeras vezes Conselheiro da OAB e seu Diretor, defensor intransigente das prerrogativas profissionais, mas exigente quanto ao compromisso do advogado com a ética, foi Presidente da Tribunal de Ética e Disciplina; Foi Conselheiro e Diretor da AASP e Conselheiro deste Instituto por várias gestões.

HOMERO nasceu num dia 11, me lembro de nosso último almoço de aniversário, em fevereiro passado, e no restaurante, antes mesmo de pedirmos ao garçom seu refrigerante com bastante gelo, tradição dos últimos anos quando não mais bebia por conta da diabetes, ele disse com dedo em riste, me surpreendendo, hoje eu quero um REMY MARTIN, ri feliz e ao mesmo tempo triste, tive a certeza que seria a última vez que o veria tomar o seu conhaque preferido!

Escolheu para se despedir, também um dia 11, desta vez, o Dia do Advogado, 11 de agosto, não haveria dia melhor para a despedida de HOMERO.

Hoje, 11 de outubro, nos reunimos aqui para saudá-lo, não acredito em coincidências! Para a numerologia, onze é o número mestre, um número perfeito que significa o idealismo do homem; é o número voltado para aqueles que buscam o bem da humanidade! Onze, o número que bem define o nosso homenageado.

Chegando quase ao final, já tendo me alongado além do razoável, quero lembrar um trecho de um livro que me lembrou dias atrás nossa amiga TANIA GUELMANN e que me fez lembrar de minhas visitas ao hospital - “A Identidade”, de Milan Kundera:

“Jean-Marc se levantou para buscar a garrafa de conhaque e dois copos. Em seguida, depois de ter bebido um gole: “No fim da minha visita ao hospital, ele começou a contar suas lembranças. Lembrou-me de coisas que devo ter dito quando tinha dezesseis anos. Naquele momento, compreendi o único sentido que a amizade pode ter hoje. A amizade é indispensável ao homem para o bom funcionamento de sua memória. Lembrar-se do passado, carregá-lo sempre consigo, é talvez a condição necessária para conservar, como se diz, a integridade do seu eu. Para que o eu não encolha, para que guarde seu volume, é preciso regar as lembranças como flores num vaso e essa rega exige um contato regular com as testemunhas do passado, quer dizer, com os amigos. Eles são nosso espelho; nossa memória; não exigimos nada deles, a não ser que de vez em quando lustrem esse espelho para que possamos nos olhar nele. Mas estou pouco ligando para o que fazia no ginásio! O que sempre desejei, desde a adolescência, desde a infância talvez, foi outra coisa: a amizade como valor elevado acima de todos os outros. Gostava de dizer: entre a verdade e o amigo, escolho sempre o amigo. /...

Depois de saborear outro gole: “A amizade para mim era a prova de que existe alguma coisa mais forte que a ideologia, do que a religião, do que a nação. No romance de Dumas, os quatro amigos se encontram muitas vezes em campos opostos, obrigados assim a lutar uns contra os outros. Mas isso não altera a amizade deles. Não deixam de se ajudar, em segredo, disfarçadamente, pouco ligando para a verdade de seus respectivos campos. Puseram sua amizade acima da verdade, da causa, das ordens superiores, acima do rei, da rainha, acima de tudo”.

Assim era HOMERO!

Já concluindo, peço licença ao Ministro Pedro Paulo, que citar trecho de um texto maravilhoso de Ruth Manus:

“No dia em que eu tiver tempo, sentarei com calma ao lado da minha avó. Vou ouvir toda a sua história. Perguntarei sobre seu par de sapatos favorito, sobre seu pai e sobre os anos de doença do meu avô. Talvez eu a leve para viajar comigo. Um belo final de semana, só nós duas e as lembranças dela.”

HOMERO, eu já sinto saudades de nosso tempo e principalmente do tempo que não lhe dei, fica a minha gratidão eterna, obrigado por tudo! 

Da casa do Pai, olhe por nós!

Muito obrigado por me ouvirem.

Euclydes José Marchi Mendonça – advogado

Instituto dos Advogados de São Paulo – 11 de outubro de 2019.